Fundamentação Teórica da Pedagogia Sistêmica
Texto copilado por Maria Abadia Silva
“Precisamos de novas bases teóricas e de novas práticas pedagógicas que favoreçam, não apenas o desenvolvimento da inteligência humana, mas sobretudo, que colaborem para uma reforma do pensamento humano para a abertura do coração”. Edgar Morin
Constelação Familiar, Fenomenologia, Teoria dos sistemas, Terapia Familiar Sistêmica, Construtivismo.
1 – Constelação familiar
Bert Hellinger propôs uma “consciência de clã” – movimentos da alma que se norteiam por “ordens” arcaicas simples, que ele denominou de “ordens do amor” e demonstrou a forma como essa consciência nos enreda inconscientemente na repetição do destino de outros membros do grupo familiar. Essas ordens do amor referem-se a três princípios norteadores:
- Necessidade de pertencer ao grupo ou clã
- Necessidade de equilíbrio entre o dar e o receber nos relacionamentos
- Necessidade de hierarquia dentro do grupo ou clã
As ordens do amor são forças dinâmicas e articuladas que atuam em nossas famílias ou relacionamentos íntimos. Percebemos a desordem dessas forças sob a forma de sofrimento e doença. Em contrapartida, percebemos seu fluxo harmonioso como uma sensação de estar bem no mundo.
Hellinger descobriu e descreveu os princípios que efetivamente norteiam a ajuda, criando assim também as chamadas “ordens da ajuda”. A abordagem apresenta uma vasta gama de aplicações práticas devido aos seus efeitos esclarecedores no campo das relações humanas, como:
- Melhoria das relações familiares
- Melhoria das relações interpessoais nas empresas
- Melhoria das relações no ambiente educacional
Tais aplicações deram início a abordagens derivadas, denominadas de constelações familiares, constelações organizacionais e pedagogia sistêmica.
2 – Terapia Familiar Sistêmica
À partir das demandas sociais crescentes após o final da Segunda guerra mundial , houve grande investimento em pesquisas sobre a comunicação dos seres vivos e na compreensão dos mecanismos reguladores, dos sistemas vivos. A Cibernética especialmente com os conceitos de feed – bach , homeostase , auto – regulação , e a Teoria Geral dos Sistemas de Von Bertallanfy, tornaram-se referenciais básicos para este novo campo . O antropólogo e biólogo, Gregory Bateson semeou as bases da Terapia Familiar Sistêmica.
3 – Construtivismo
O construtivismo parte do princípio de que o desenvolvimento da inteligência é determinado pelas ações mútuas entre o indivíduo e o meio. A ideia é que o homem não apenas nasce inteligente, mas ele também responde aos estímulos externos agindo sobre eles para construir e organizar o seu próprio conhecimento.Construtivismo na Educação é a forma teórica ampla que reúne as várias tendências atuais do pensamento educacional. É a ideia de que nada, a rigor, está pronto, acabado, e de que, especificamente, o conhecimento não é dado, em nenhuma instância, como algo terminado. Ele se constitui pela interação do indivíduo com o meio físico e social, com o simbolismo humano, com o mundo das relações sociais.
A Educação deve ser um processo de construção de conhecimento ao qual ocorrem, em condição de complementaridade, por um lado, os alunos e professores e, por outro, os problemas sociais atuais e o conhecimento já construído – acervo cultural da Humanidade.
“É um novo modo de ver o universo, a vida e o mundo das relações sociais”. Piaget
4 – Fenomenologia
É o estudo de tudo que se revela, do que se mostra. É a apreensão da essência absoluta das coisas, estuda o próprio fenômeno.( Edmund Husserl, Heidegger, Sartre). O método de B. Hellinger é fenomenológico pois permite aceder à informação inconsciente de um determinado sistema e detectar onde estão as desordens e as transgressões. Favorece soluções que ordenam o sistema.
5 – Teoria dos sistemas
O Sistema é um conjunto de partes interagentes e interdependentes que, conjuntamente, formam um todo unitário com determinado objetivo e efetuam determinada função.
A teoria dos sistemas nasceu da Biologia (Bertalanffy). Um sistema se define como o conjunto de elementos em interação entre eles e de forma conjunta com o meio ambiente, Cada elemento pode ser estudado de forma separada, mas só adquire significado na medida que é considerado parte integrante de um todo, qualquer elemento pode ser visto como um sistema que, ao mesmo tempo, faz parte de outro sistema maior. Isto permite configurar o universo como uma arquitetura de sistemas em interação e com ordens hierárquicas.
A aplicação da Teoria dos sistemas às ciências humanas e à psicologia deu origem à corrente sistêmica, com larga trajetória na Terapia familiar.
Nos sistemas ordem e desordem são elementos complementares, a ordem é resultado da inter-relaçao ordem/desordem/organização.
- Conceitos Fundamentais
- Entropia – todo sistema sofre deteriorização
- Sintropia, negentropia ou entropia negativa – para que o sistema continue existindo, tem que desenvolver forças contrárias à entropia
- Homeostase – capacidade do sistema manter o equilíbrio e
- Homeorrese – toda vez que há uma ação imprópria (desgaste) do sistema, ele tende a se equilibrar.
O estudo de um ecosistema se pode abordar como uma unidade, e ao mesmo tempo cada um de seus elementos possui características especificas que refletem sua interrelaçao com o resto.
Maturana, cientista chileno, sustenta que os sistemas humanos são autopoiêticos e autogeradores, são capazes de se regenerar. A manutenção da vida é uma dinâmica relacional, um acoplamento estrutural do organismo com o seu meio e vice-versa.
Para Maturana em sua “Biologia do conhecer”, o conhecimento é uma construção da linguagem, é a referência construída nas relações que, por sua vez, são emocionadas.
O amor é a emoção que funda o social como o âmbito de convivência no respeito por si e pelo outro.
- Diferenças: pensamento linear/lógico/cartesiano e pensamento sistêmico.
Relações causa e efeito, dualismo, o que significa olhar para o problema, reduzir o problema a uma parte, analisar, e aplicar a ela a solução, deixando de ver o todo e sua interação com o entorno, Significa ainda, buscar bons e maus, culpados sem contemplar todos os fatores que intervém em um fenômeno.
Na educação, separar as disciplinas, não levar em conta o contexto, nem a dinâmica dos grupos e as forças de interação. Premiar os conhecimentos acadêmicos e desvinculados da condição humana e que dissociam o racional do emocional.
Enfoque sistêmico é na conectividade relacional, seu ápice é a ação recíproca, seja entre órgãos, na família, escola, ou qualquer grupo humano.
História da Pedagogia Sistêmica
A metodologia das Constelações familiares que B. Hellinger aplicava à Terapia Familiar e pessoal estava pronta para ser aplicada em todos sistemas humanos, e também na educação.
Umas das mestras pioneiras foi Marianne Franke, com resultados extraordinários. Ela trabalhava em escolas há 28 anos e com Hellinger desde a década de oitenta, publicou sua experiência em “Você é um de nós” – Ed. Atman.
Em seguida vem Angélica Olvera e Alfonso Malpica, responsáveis pelo CUDEC, no México, onde foi criado um currículo e metodologia e hoje levado a mestrado pela Universidade do México, sendo adotado também em vários outros países.
Amparo Pastor promoveu a primeira turma na Espanha, em Madrid, 2003/2004, depois veio a Universidade Autônoma de Barcelona, Instituto Gestalt de Barcelona e outros lugares.
Foi realizado no México, em 2004 e out/2006 em Sevilha, o I e II Congresso de Pedagogia Sistêmica.
Enfoque sistêmico na educação – segundo as ORDENS DO AMOR.
A importância da Ordem, o que foi antes e o depois, um olhar transgeracional, a importância da vinculação com as gerações.
O valor da inclusão de todos elementos da educação.
O peso das culturas de origem, que tem a ver com as lealdades aos contextos de onde viemos.
A importância das interações dentro do sistema – qualquer elemento disfuncional pode afetar a todos elementos.
As ordens e desordens operam de forma inconsciente, na maioria das vezes. Se trata de identificá-las e focar nas soluções que possam tornar mais funcional e operativo o sistema, favorecendo a aprendizagem e o bem estar de todos.
A Pedagogia Sistêmica é a arte de contextualizar.
Ampliar o olhar de forma sistêmica é juntarmos todas as forças, dos alunos e suas histórias e de suas famílias, a força do grupo, os conhecimentos, as capacidades de auto organização dos grupos, à serviço da aprendizagem.
A finalidade é encontrar a ordem natural e identificar as desordens e ocupar o lugar que nos corresponde, seja como pais, mães, professores ou alunos o que significa aceitar nossos limites e não fazermos o que não nos corresponde.
A arte do olhar que vê.
Estar presente, ter disponibilidade para ver o que acontece na aula, na escola, nas famílias.Ter uma escuta empática, se colocar em ressonância com os pensamentos e afetos do outro. É uma atitude de respeito profundo, sem deixar de colocar os limites certos aos alunos.
Aceitar a vida e estar no lugar que nos corresponde, em ressonância com nossos sistemas familiares, como pais e professores também. Tomar um tempo pra conhecer os alunos, observar, dar valor aos elementos relacionais. Fazer as coisas mais lentamente, com consciência, saborear o que está fazendo.
Obstáculos: medo da emoção, da dor, do mal estar.
Colocar-se em situação de comover-se com o mundo, abre os canais de vibração emocional em que o mundo exterior tem eco em nós e provoca mudanças pessoais.
Alteridade:
O temor de se encontrar em situação de vulnerabilidade explica a tendência a refugiar-se em atitudes de poder. O contato profundo com o outro nos convoca a mudanças.
Ilusão de autossuficiência:
Somos um nó em uma rede de relações e todos nos necessitamos.
Concepção de vida interior:
A vida interior requer a disponibilidade e atenção ao mundo exterior. Os vínculos com nossas raízes e nossos pais, nosso olhar para o mundo, as mudanças, os encontros, a vida interior é o prolongamento dessas impressões que continuam ressoando em nós.
O IBS Sistêmicas esteve presente no II Congresso Internacional de Pedagogia Sistêmica, em Sevilha – ES, no ano de 2006.